O mês de maio é marcado pela campanha do Maio Furta Cor. A iniciativa é brasileira, foi criada em 2020, com o propósito de sensibilizar a população e atrair a atenção das autoridades para o cenário da saúde mental materna no Brasil. Neste ano a temática da campanha é: saúde mental materna importa! O Hospital Regional do Oeste (HRO), administrado pela Associação Hospital Lenoir Ferreira Vargas (ALVF), através do serviço de psicologia faz parte dessa iniciativa e promoveu durante todo esse mês palestras e ações de conscientização sobre a temática.
A programação contou com rodas de conversas, capacitações e palestras, destinadas a todas as mães puérperas, pais e rede de apoio da maternidade, UTI Neonatal, Ucinco e público geral interno e externo. Capacitações como essa, fazem parte dos pilares da ALVF, que tem como objetivo promover a melhoria contínua na qualificação profissional e prestação de serviços de saúde do HRO.
Alyne da Rocha, psicóloga hospitalar, explica que a realização da campanha do Maio Furta-cor no HRO se propôs a sensibilizar a população sobre o cuidado com a saúde mental materna. “Hoje, sabemos que no Brasil, mais da metade das gestações não foram planejadas e uma a cada cinco mulheres apresentam algum problema de saúde mental durante a gestação e no primeiro ano após o nascimento do bebê. Uma porcentagem alarmante de mães em sofrimento, sendo que 82% das mulheres com depressão perinatal no Brasil, permanecem sem diagnóstico e sem acesso a um tratamento adequado”, comenta a profissional.
No contexto hospitalar o objetivo foi falar sobre o suporte psicológico às mães que acompanham seus filhos durante o período de internação, e aprofundar temáticas como alterações emocionais significativas, dados estatísticos sobre saúde mental materna, amamentação e rede de apoio. “Tivemos ações com as mãezinhas de bebês internados na UTI Neonatal e Ucinco, capacitações com as equipes, palestra aberta ao público e com foco nas gestantes colaboradoras, rodas de conversas com mães de bebês internados da UTI Pediátrica e hoje realizamos nosso última ação do mês com gratidão a adesão, participação e colaboração de todos!” comenta Alyne.
Essa temática é abordada no mês de maio, mas é importante reforçar que a saúde mental materna é um assunto que deve ser discutido o ano todo, pois ser mãe nunca acaba.
Mas afinal, o que é a saúde mental materna?
A expressão “saúde mental materna” refere-se ao estado psicológico e emocional das mulheres e/ou pessoas abrangendo aspectos como bem-estar mental, equilíbrio emocional e a capacidade de lidar com os desafios associados à maternidade. Isso inclui a gestação, o parto, o pós-parto e o cuidado com os filhos.
Como surgiu o movimento?
Inspiradas pelas campanhas de conscientização já existentes em nosso país, pelos expressivo aumento da prevalência de transtornos mentais perinatais no Brasil e pela inexistência de políticas públicas e protocolos específicos que assistam à saúde mental da mulher ao longo do ciclo gravídico puerperal, Nicole Cristino, psicóloga, e Patrícia Piper, psiquiatra, fundaram em 2020 a campanha Maio Furta-cor.
A iniciativa se faz necessária devido ao persistente estigma social associado a questões relacionadas à saúde mental, o qual se intensifica quando direcionado ao âmbito materno. Isso tem contribuído para um preocupante aumento nos casos de depressão, ansiedade e, lamentavelmente, suicídio entre as mães. Claro que um mês só não é suficiente, é o começo!
O mês de maio foi escolhido pois é celebrado no Brasil e em grande parte do mundo, o Dia das Mães, um momento oportuno de fomentar discussões em torno das causas maternas e dos fatores envolvidos nos crescentes índices de depressão, ansiedade, esgotamento e suicídio.
Por que Furta-cor?
Definir uma cor para a maternidade é uma tarefa complexa, afinal, a maternidade tem diferentes facetas e que não são estáveis, por isso, Furta-cor foi a cor escolhida para a maternidade. Sua tonalidade se altera conforme a luz que recebe. A maternidade tem cores diversas que não se anulam, não são iguais nem formam uma cor só. Suas cores são suas diferenças, na igualdade do direito de ser mãe.A maternidade precisa de luz, apoio e cuidado. Olhar engajado de todos para existir. Sem manuais, sem regulamentos. Levantar a bandeira de uma maternidade furta-cor, livre de tabus e silenciamentos é promover saúde mental.
O movimento pode ser celebrado por qualquer entidade ou grupo de pessoas, basta seguir as diretrizes vigentes no site https://www.maiofurtacor.com.br/.
Por que a saúde mental materna é um problema de saúde pública?
Conforme destacado pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2023), toda mulher está suscetível a desenvolver transtornos mentais durante a gravidez e no primeiro ano pós-parto. Contudo, alguns grupos enfrentam maior vulnerabilidade, incluindo aqueles em situação de pobreza, migração, estresse extremo, exposição à violência (doméstica, sexual e de gênero), situações de emergência e conflito, desastres naturais, e falta de apoio social, o que amplia os riscos de distúrbios específicos. A OMS (2023) também alerta que os transtornos mentais perinatais constituem um grave problema de saúde pública, exigindo estratégias de enfrentamento urgentes e eficazes. Quando não tratados, esses transtornos têm o potencial de devastar a vida da mulher e, consequentemente, afetar negativamente sua família. Mães impactadas por transtornos mentais perinatais podem ter dificuldades em fornecer os cuidados adequados, resultando em possíveis impactos adversos no crescimento e desenvolvimento da criança. A saúde mental materna, portanto, transcende uma questão individual, sendo uma preocupação fundamental da saúde pública que diz respeito a todos.
O que é saúde mental materna?
Entendemos por saúde mental materna o bem estar psicológico e emocional da mulher ou pessoa que gesta, perpassando a gestação e se prolonga por toda a vida no cuidado com os filhos. A partir desse conceito, a saúde mental materna passa por ciclos que se interseccionam nos desafios de conceber, gestar, dar à luz, nutrir, cuidar e educar os filhos diante das mais variadas demandas e níveis de desenvolvimento. O puerpério é considerado um período de risco para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, sendo a ansiedade e depressão pós-parto um problema frequente nas puérperas. Segundo a OMS, a depressão pós-parto acomete de 10% a 15% das puérperas nos países desenvolvidos e 19% nos países em desenvolvimento, constituindo um relevante problema de saúde pública, em razão da elevada prevalência, impacto e custos sociais.
Pouca ou nenhuma atenção tem sido dada aos fatores que contribuem para o sofrimento mental das mulheres diante das crescentes demandas da maternidade. Isso leva as mulheres a vivenciar esse papel imersas em um elevado nível de exigência, sentimentos de auto reprovação, insuficiência e culpa.
A forma como se legitimam visões distorcidas sobre o papel materno reforça a crença em um modo único e soberano de exercer a maternidade, e isso impacta a saúde mental, gerando dor e sofrimento. Muitas mulheres vivenciam estados de sofrimento no período da gestação, do parto e do puerpério sem que possam ser ouvidas e legitimadas, quanto menos receber tratamento adequado. Esse cenário compromete a experiência do período perinatal, a vinculação afetiva da família e o desenvolvimento humano. Além disso, fatores externos como violência, desemprego, baixa escolaridade e vulnerabilidade social contribuem de forma contundente ao adoecimento mental materno.
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